Depósito de mágoas
Eu não diria que sou uma pessoa rancorosa. Mas com certeza sou uma pessoa magoada. Tenho o mau hábito de alimentar esses monstrinhos internos que nascem das lembranças ruins. Penso demais neles e acabam ficando grandes e incômodos. É aí que mora o perigo, porque eles podem acabar me engolindo inteira.
Fiquei feliz com o visual que pensei para essa tirinha! Ultimamente, ando receosa de estar ficando meio repetitiva nos meus temas e, pior ainda, nas minhas imagens. Como diria a Carmen Maria Machado em O Corpo Dela e Outras Farras, “o que é pior: escrever um clichê ou ser um?”. Para mim, com certeza é escrever um.
Claro que me comparar com uma casa não é novidade, e nem mesmo a ideia de fazer uma faxina interna. Mas acho que cheguei num resultado interessante representando as mágoas como fantasminhas (ou fantasmágoas, se preferir) e sinto que consegui criar algo. Ou, pelo menos, encontrar algo fora das associações automáticas que já estão gravadas na minha cabeça.
Como sempre, pode baixar e compartilhar as imagens! Só peço que dê meus créditos e, se possível, me marque ✨
Novidade
Tem blusinha nova na lojinha! Essa estampa é uma homenagem a Macondo, cidade imaginária em que que se passa o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. A ilustração é inspirada em selos vintage da Colômbia, terra natal do autor. Tem camisetas de várias cores pra você escolher (a preta ficou linda com essa estampa) e também pôster e ecobag!
Recomendo
✸ No tema da tirinha de hoje, este poema do Leminski que me diverte horrores e quase me assusta na sua perspicácia:
"no fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela — silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas"
✸ Esta ilustração de Ambivalently Yours que traz uma outra perspectiva sobre as mágoas:

✸ Saindo do tema da tirinha e continuando a leitura da pilha de livros que eu trouxe do FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte), cheguei em Esperando por você, da Luísa Lacombe.
Antes de tudo, quero dizer que Luísa é uma pessoa estudada. Ela é formada em cinema com mestrado em literatura. E isso revela uma coisa importante sobre ela e seu trabalho: Luísa é curiosa pra caramba. Todos os gibis que tenho dela tratam de temas fora do comum sob uma ótica pessoal, única e bem humorada. Neste zine, três linhas narrativas se misturam: a do cantor gótico trevoso Nick Cave quando morou no Brasil, a de um tuiteiro em busca de informações sobre uma foto pouco conhecida do artista e a da própria Luísa, acompanhando tudo isso e refletindo sobre a memória dos encontros.
A Luísa está no Instagram e o gibi está disponível na lojinha online dela (cuidado: a curiosidade é contagiosa e você vai terminar a leitura querendo saber tudo sobre o Nick Cave).
✸ Também li a revista Liget, do KZ.
Esse é o número 5 dessa revista seriada toda escrita e desenhada por uma só pessoa. Apesar de fazer parte de uma coleção, esse volume traz histórias curtinhas e autocontidas. As duas primeiras são bem pessoais e tratam de memórias de infância, perda e saudade; a penúltima é uma HQ opinativa sobre a importância das mídias físicas diante do aparente triunfo das plataformas digitais; e a última é uma pequena ficção sobre a amizade de um senhor e um gato.
Eu amo histórias curtas. E o trabalho do KZ é um deleite! Parece que estamos sentados com ele tendo uma conversa super nostálgica sobre coisas singelas e que realmente importam.
Siga o KZ nas redes e dá uma olhada na lojinha do selo Harvi, onde tem esse e muitos outros gibis incríveis!
✸ Finalmente, recomendo os três primeiros filmes da franquia Alien, que foram os únicos que assisti até agora. Amo a Ripley. E amo a insistência na mensagem de redenção da humanidade através de indivíduos corajosos e comprometidos com o bem comum que lutam contra empresas gananciosas e burras (e também contra aliens).
Obrigada pela companhia! Sinta-se à vontade para deixar um comentário ou responder a este e-mail. Caso queira, você pode me pagar um cafezinho
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Quero aproveitar para agradecer à Sarah pelo cafezinho e também por todo o apoio e carinho 💖
Até a próxima,
Laura.
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adorei o conceito de fantasmágoas - tenho vários me assombrando por aqui!! sempre pensei que era uma questão de rancor, mas acho que você tem razão, tem mais a ver com mágoa. sentir rancor acho que faz outro tipo de mal pra quem sente e pra quem é a causa do sentimento; sentir mágoa é um tipo de dor só de quem sente