Minhas lâminas
Eu tenho muito medo de ser má. Que coisa horrível causar sofrimento pra alguém. É claro que as pessoas não são apenas uma coisa ou outra, inteiramente boas ou más. Uma vez, uma amiga me contou de um chefe que era super conservador (e, portanto, machista), mas resgatava animais. É engraçado que seja sempre nesse senhor desconhecido que penso quando reflito sobre as muitas facetas das coisas.
Acontece que, quando é comigo, eu sou maniqueísta. Então, se faço uma coisa ruim, eu só posso ser terrível. Sem salvação.
Foi daí que veio essa tirinha. É uma tentativa de me redimir, acho. De entender que sou afiada, mas, se prestar atenção, consigo controlar meu poder de destruição. A moral da história é que prestar atenção é fundamental. Todos têm a necessidade de serem vistos, e cabe a nós fazer o esforço da atenção por quem é importante pra gente.
Falando de forma, agora: visualmente, fiquei feliz com o resultado. Costumo planejar detalhadamente o que vou desenhar antes, mas, nesse caso, eu tinha uma ideia muito vaga do que queria (pontas>feridas) e tive que rabiscar bastante até encontrar. Achei que o texto e a arte ficaram sucintos e pontudos e se complementam bem.
Recentemente também fiz uma tirinha sobre as queimadas que vêm transformando o Brasil inteiro num grande cinzeiro. Postei no Instagram porque senti que era urgente e, como faço a newsletter com um pouco mais de cuidado, sabia que ainda demoraria um pouquinho antes de lançar esta edição. Aqui está:
Como sempre, pode baixar e compartilhar as imagens! Só peço que dê meus créditos e, se possível, me marque ✨
Novidade
Tem blusinha nova na lojinha! Essa estampa é inspirada na estética fofa cafona dos pratos de prato. Inicialmente, desenhei um gatinho segurando uma flor, mas no fim optei por esse Kewpie* com carinha sacana. Desenhei com a mão esquerda pra ficar com esse ar tosquinho e adorei.
Dedico a todos os introspectivos e antissociais que me lêem ✨ espero que ela afaste todas as conversas indesejadas de seus caminhos!
*Kewpie é um personagem de tirinhas criado por Rose O'Neill, primeira cartunista mulher a ser publicada nos EUA. Ele é um anjinho fofo que ficou tão popular que, hoje em dia, é tema de tatuagens e até virou mascote de maionese japonesa.
Recomendo
✸ Este trecho de um texto da autora e ativista Elana Dykewomon que acho que se conecta com a tirinha de hoje, de alguma forma:
“Almost every woman I have ever met has a secret belief that she is just on the edge of madness, that there is some deep, crazy part within her, that she must be on guard constantly against ‘losing control’ — of her temper, of her appetite, of her sexuality, of her feelings, of her ambition, of her secret fantasies, of her mind.”
Tradução meia-boca: “Quase todas as mulheres que conheci acreditam secretamente que estão prestes a enlouquecer, que há uma parte profunda e insana dentro delas, que devem estar constantemente alertas para não ‘perder o controle’ — do seu temperamento, do seu apetite, da sua sexualidade, dos seus sentimentos, de sua ambição, de suas fantasias secretas, da sua mente”.
✸ Pigmento, HQ da Aline Zouvi. Peguei pra ler antes de dormir e que erro! Terminei e fiquei horas com os olhos abertos no escuro, pensando sobre as várias camadas do livro. Esta resenha do Ciro Inácio Marcondes diz tudo. Mas, se eu tivesse que resumir, diria que é uma grandiosa declaração de amor à literatura queer, que embala, carinhosamente, um romance sutil, peculiar e bonito. Disponível na Amazon e na Cia. das Letras.
✸ O filme Eu penso sobre ir embora, do Daniel Ianae. Está disponível na íntegra no Youtube. O Dan é um poeta e fotógrafo talentosíssimo que, ao se arriscar no audiovisual, criou uma obra muito singela e tocante sobre a cidadezinha litorânea em que ele vive. Uma declaração de amor aos espaços que nos acolhem e nos vêem crescer. Espero que essa visão carinhosa guie o meu olhar daqui pra frente.
Obrigada pela companhia! Sinta-se à vontade para deixar um comentário ou responder a este e-mail. Caso queira, você pode me pagar um cafezinho
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Até a próxima,
Laura.
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Que texto fantástico, Laura.
Agora sobre essa "natureza da bondade" - sempre lembro muito da construção de personagens: que eles se tornam mais interessantes quando não são completamente "limados", quado as arestas deles possuem falhas, ranhuras, rachaduras.
Ora, e o que são personagens fictícios senão percepções do humano, né? Todos possuímos esses detalhes: algumas lâminas mais ou menos afiadas, uma pele um pouco mais fina em algum ponto, um suspiro que deveria ter sido um sorriso. Isso também nos torna interessantes, humanos.
É como vc sugere: a maldade que vemos em nós é muita mais um reflexo do nosso próprio julgamento que um desejo factual de ferir outro.
Que texto e quadrinho incríveis, Laura!!! Me identifiquei em todos os pedaços e me senti abraçada hahahaha